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CENA 2.0 - Indústria da música x indústria fonográfica


Fonte: https://ediscoqueeugosto.wordpress.com/2012/05/31/industria-fonografica-tem-crescimento-inesperado-no-brasil/ Durante muitos anos, praticamente desde o estabelecimento do comércio de música gravada no início do século XX, designamos como “indústria fonográfica” o setor envolvido com a compra e venda de discos. O termo é uma alusão ao fonógrafo, aparelho inventado para registrar e gravar sons. Com o passar do tempo, a ramificação deste segmento alcançou uma complexidade que extrapolou e muito o varejo, e a própria música gravada (o fonograma) também passou a ser comercializado de muitas maneiras diferentes.

Por um simples hábito ou conveniência das maiores empresas do setor, que são justamente as intermediadoras entre a produção musical e a venda, foi se designando tudo relacionado à música como indústria fonográfica. Inclusive, os dados oficiais quase sempre estavam ligados aos números do varejo. Natural, pois durante décadas a quantidade de discos vendidos era o principal parâmetro para medir o sucesso de um determinado artista, e essa medida pautava praticamente todas as outras etapas da cadeia produtiva.

Acredito que até os anos 1980, talvez ainda fosse muito difícil enxergar de um ponto de vista macroeconômico qualquer iniciativa ou mercado fora desse circuito oficial estabelecido. É claro que havia iniciativas mais autônomas, e é óbvio também que o segmento musical não se resumia simplesmente à venda de discos há muito tempo. Já havia uma enorme complexidade proporcionada pelo showbis, intersecção com o cinema e o teatro, por exemplo, concertos, televisão, e por aí vai. Mas por uma perspectiva estatística, o grosso dos dados que se tornavam públicos vinha das grandes gravadoras que utilizavam o número de unidades vendidas do álbum como um fator predominante. Não o único, mas outras informações e exceções ou eram muito pontuais e pouco expressivas para serem de fato contabilizadas ou acabavam entrando em dados de outros segmentos quando se tratavam de empregos formalizados, por exemplo. Além do mais, a informalidade sempre foi muito presente no meio musical, o que por si só já dificulta a compreensão e a própria geração de dados informativos.

A medida que as coisas foram mudando e o setor musical foi se reconfigurando, inúmeras estratégias e novos ambientes começaram a surgir. Diversos profissionais começaram a atuar ativamente no cenário, inclusive o próprio compositor na gestão de sua carreira, introduzindo de vez o profissional liberal autônomo no setor. Com a avalanche da revolução digital, a venda de discos foi se tornando menos importante até ser superada pelo comércio digital de música. E este, inclusive, já possui outros parâmetros e não é mais a principal fonte de receita para muitos profissionais que trabalham com música. Com o aumento exponencial da complexidade de relações profissionais e sociais na música, vários tipos de estudos começaram a ser feitos na tentativa de mapear melhor o que era de fato viver no meio musical do ponto de vista econômico, geração de renda, emprego, marketing, comunicação e até mesmo antropológico.

A partir daí começou a ficar cada vez mais evidente o abismo entre o comércio varejista de música (seja físico e digital) e a infinidade de serviços relacionados. Passando pela organização e produção de um espetáculo até a gestão de mídias sociais do artista. Não que serviços não existissem antes, mas a revolução digital deflagrou uma expansão de serviços de outras áreas para dentro da música, a criação de vários nichos de mercado, ampliação e especialização de segmentos, surgimento de novas mídias e vários outros fatores que proporcionaram um alargamento de possibilidades para se atuar e trabalhar com música. Muito rapidamente, a pessoa responsável pela gestão de uma carreira musical (seja o próprio artista ou o empresário) teve que se deparar com uma grande quantidade de serviços, gerenciar e conciliar uma equipe cada vez maior, e compreender que mais etapas foram inseridas na produção e condução daquela carreira. Ou seja, o setor musical sofreu uma expansão a partir dos anos 1990 e não uma retração completa como se imaginava.

O curioso é que na maioria dos veículos de comunicação e até muitos estudos ainda se confunde e consideram tudo como indústria fonográfica, quando esta representa somente o comércio de fonogramas de uma forma geral. Que aliás, após esse avalanche todo caiu drasticamente e demorou vários anos para se recuperar. Poucos estudos propõe uma visão mais ampla do setor musical, mas este gráfico traz de uma forma simples e didática que estamos tratando, na realidade, de uma indústria da música, que possui várias ramificações. Uma delas seria a indústria fonográfica, ou seja, ela está inserida no todo, não é o todo. Não seria exagero dizer, portanto, que enquanto a indústria fonográfica sofria uma retração a indústria da música se expandia.

Também surgiram uma série de estudos e pesquisas empenhados em considerar os diferentes trabalhadores que atuam na música, a quantidade de emprego e renda do setor, número de discos e fonogramas vendidos por outras empresas e artistas (o famigerado “setor independente”), no intuito de compreender melhor do que exatamente estamos falando. Está ficando cada vez mais claro que a música não gira mais em torno de poucas empresas, mas que ela possui uma teia complexa de interrelações que se aproximam em um determinado momento e no outro se afastam, gerando uma dinâmica singular dentro da economia global. Resumindo: o que não pode ser, às vezes é mesmo.

Referência do gráfico:

PAIXÃO, Lucas F. da. A indústria fonográfica como mediadora entre música e sociedade. Curitiba: UFPR, 2013.

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