Entrevista: Dream Team do Passinho
Se tem uma galera que chegou com tudo foi o Pessoal do Dream Team Do Passinho. Falamos sobre carreira, referências, sonhos, e você pode conferir a conversa com o Mayke, Niltinho e Breguete! Em breve a entrevista sai no SoundCloud!
Rafael Cabral: Daquele comercial de 2013 da Coca-Cola pra hoje: TVZ, clipe no Multishow, visualização pra caralho na internet. Qual a sensação de olhar e ver isso? Mike: Então cara, assim, a gente trabalha todo dia, toda hora, o tempo inteiro de domingo à domingo. Domingo de folga a gente se fala pra criar uma estratégia, montar alguma coisa. Parece que é pouco tempo, óbvio, uma carreira de um artista muitas vezes não se desenvolve para as coisas acontecerem em 3 anos. Mas, a gente tem uma equipe muito interessada, que pensa junto, que quer a mesma coisa, a galera da Toca. Roberta que pensa produção, a Débora comunicação, a Joana estratégia, o Drago que é o diretor geral. A gente é muito envolvido com nosso trabalho e estamos muito felizes com as coisas que estão acontecendo, o que vier a gente vai ta preparado graças a Deus, sabe? Pé no chão, coração na humildade, a gente quer somar, não ser um grupo de tiração de onda. A gente quer tirar uma onda com o que a gente faz, óbvio, a gente rala pra isso, mas não é só isso. Tem questões que a gente se preocupa, a gente quer fazer uma história. Rafael Cabral: O funk sempre teve aquela coisa mais marginalizada, principalmente aqui no Rio, num
âmbito "Brasil". Eu lembro, eu to com dezenove anos, quando estourou aquela febre do passinho, da batalha, eu morava no asfalto, mas perto de uma comunidade, e, mesmo assim, a galera era toda pilhada. Nas festas a galera já armava a roda e era bizarro porque eu, muito branco, e meu primo, também, a galera ficava meio "A lá os branquelos querendo tirar onda". Mas, quando vocês vieram era a galera do passinho, mas se mostraram não só um grupo de dança. Vocês cantam, tem presença e vocês, com uma vibe de falar "o funk não é só aquela parada ali não, a gente quer mostrar o que é a nossa cultura, o que a gente traz". Vocês são de lugares diferentes do Rio, se conheceram de uma forma inesperada, numa batalha, e hoje tem cd gravado, clipe e são referência não só do funk, mas da música pop atual brasileira. O que acham desse pulo que vocês deram.
Breguete: Primeiramente, assim... a gente não tem preconceito com nenhum tipo de funk, a gente escuta todos os ritmos, todos os funks. Até porque a gente veio da favela e cresceu escutando todos os tipos de funk, todos os tipos de som, então a gente não tem nenhum preconceito. A gente tem uma levada diferente, quer mostrar com a nossa música, e nossa dança, a nossa verdade. A música da favela, as gírias que tem na favela, o jeito de se vestir que tem na favela, da garota beijando outra garota, do moleque beijando outro moleque. A gente quer mostrar isso com o nosso som, mostrar que não temos preconceito e que a gente tem a liberdade de fazer o que a gente quiser fazer. A gente se sente muito feliz do que você falou, da gente vir lá de baixo, do passinho, e nos descobrirmos juntos, um com outro, que a gente podia cantar. Eu não cantava, só dançava, Hiltinho não cantava, Mike, Lellê sempre teve uma vibe de cantar. Fomos meio que se descobrindo juntos, a gente faz aula de canto, como o Mike disse, a gente trabalha todo dia pra fazer história. Mike: Essa referência cara, só pra dar um complemento, às vezes o cara vem do funk e sofre ao longo do tempo uma mudança pra ter uma aceitação melhor. Eu admiro e não tenho problema nenhum, é apenas uma forma de caminhar. Acredito que nosso som vai ter um amadurecimento, continuar bebendo de outras fontes, mas a gente quer ser funkeiro. Partir da natureza da nossa música, ser o funk carioca, ainda que a gente viaje pela música eletrônica, como no nosso disco tem elementos da música eletrônica, do ragga, do reggae, do samba, do xote, do soul, mas a cara é o funk carioca. Rafael Cabral: Aquela parada que você falou da galera migrar no principio de ser mais radiofônico, acho que isso até influencia em relação à tempo de carreira. Em pouco tempo, vocês com esse som não precisaram mudar nada e chegaram, alcançaram aquele status. Uma pergunta, que assim que eu vi o programa eu fiquei com muita vontade de fazer: Sandra de Sá é a Sandra de Sá, ela ta em outro patamar. Como foi dividir o palco com ela no "Música Boa"?
Mike: Po cara, foi muito importante pra nossa carreira. Foi a segunda vez, a gente fez uma onda com ela uma vez em Miami. A gente só aprende com a nega! Eu lembro que em Miami ela me deu mó papo, "tem que economizar essa voz aí", com aquele jeitão dela. "Tu canta altão, tem que dar uma segurada". É só aprendizado e ela é uma referência, se você botar dez nomes da história da música brasileira com certeza ela ta lá. Foi mais uma troca incrível, uma oportunidade que a gente agradece à Deus. Ela é super amiga, o que ela quiser fazer da vida dela e convidar a gente a gente vai ta dentro. Rafael Cabral: Eu escutei o CD de vocês e foi até uma parada meio bizarra. Eu já tinha visto o comercial e tudo mais, naquela páscoa, aqui no Hemorio, eu vi o show e pensei: "esses caras mandam bem pra caraca, deixa eu pesquisar isso aí". Cheguei em casa, escutei o CD e achei genial! Uma produção "da hora", versátil, de ouvir e ver que é diferente e não tem facilmente. Primeiro CD é algo difícil, você tá naquela de se descobrir e mesmo assim teve uma harmonização de voz da "hora", uma organização vocal muito boa. Essa parte do CD vocês ficaram ali o tempo inteiro fazendo, teve algum guru ou foi na cara e na coragem? Hiltinho: Ele mesmo(Mayke). Mike: Eu sou diretor musical. Rafael Cabral: Ta explicado. Mike: Eu sou o mais velho do grupo, sou o vovô do passinho. Vou fazer 37 anos em dezembro e faço isso há muito tempo. Eu nunca tinha dirigido nada musicalmente, nos últimos 3 anos eu assumi essa responsa junto com o Rafael que falou "cara, você é o diretor musical". Eu comecei a pesquisar, ver como é o trabalho de outros diretores. Respondendo sua pergunta, eu já tinha algumas composições, algumas referências e esses caras também. Muitos deles não tinham composições, mas tinham uma ideia de como escrever, como só botar pra fora o que sentia. Nesse aspecto de referência musical cada um tem uma e maravilhosa, Breguete vem do samba, além dele ter o samba no DNA dele, se fazer ele dançar muito passinho você visualizar o samba, ele é um cara muito musical pro samba. Hiltinho cresceu dentro da música baiana, do pagode, a mãe dele é dessa vibe. Tu vai na casa dele e parece que tem um rádio 24 horas ligado. A Lellê é uma menina muito musical, canta com tudo, acorda cantando, vai dormir cantando. O Pablinho chega a ser chato. O maluco é da Rocinha, aquela maluquice, aquele forró alto que toca nos altos falantes da rua, com o funk que ele escutava dentro de casa. Eu vim do reggae, do ragga, gostava de tudo isso que eles gostavam e com o tempo fui bebendo em outras fontes. Tive a oportunidade de ter outras bandas de reggae, de rock e trouxe tudo isso pro disco. Junto com o Pedro, que é um produtor maravilhoso. O moleque hoje produz Nego Do Borel, Anitta, que hoje tá bombado mas começou junto comigo em Nova Iguaçu, num quartinho, fazendo trilha pra político, festival de teatro... A gente fazia muito isso em Nova Iguaçu. Enfim, é um pouco disso tudo que eu te falei, além de que o nosso disco é uma mensagem bacana, a nossa verdade
Rafael Cabral: É um disco totalmente pra cima. Pelo Dream Team Do Passinho e pelo individual de cada um aqui, com quem vocês tem aquele sonho de dividir palco, fazer um show junto? Nacional, internacional, morto, vivo. Breguete: Minha maior referência foi Michael Jackson. Não só pra mim mas pra muitos dançarinos, e meu sonho era um dia dividir palco com ele. Rafael Cabral: Imagina o Michael mandando passinho? Breguete: Imagina, se ele tivesse vivo ele taria mandando. Rafael Cabral: Ele mandando um "De Ladin" com vocês. Breguete: Tá maluco. Mike: Eu tenho um sonho com um cara que eu tive até o prazer de conhecer em 2012, em Londres no encerramento das Paralimpíadas. Tenho certeza que um dia a gente vai fazer alguma coisa com ele, que é o Carlinhos Brown. Acho ele um cara que, pelo que eu vi em 2012, quando o movimento já tava bombando, o cara já tava ligado no passinho. Rafael Cabral: Carlinhos Brown ainda dá tempo de fazer. Hiltinho: Ainda dá tempo. Mike: Acho que a gente ainda vai fazer uma batucada louca com muita voz, muita swuingada baiana.
Rafael Cabral: Valeu galera, foi um prazer inenarrável. Obrigado pela entrevista.