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CENA 2.0 - Debatendo a Sustentabilidade Musical


Muito se fala sobre como alcançar uma sustentabilidade dentro do setor musical para uma carreira artística. De cara já adianto: se você espera encontrar nesse texto, ou no meu livro (A Autoprodução Musical) ou em qualquer outro “manual da felicidade” uma fórmula perfeita que te leve ao estrelato, esqueça. Nem precisa perder tempo lendo este artigo. Não só artistas, mas as pessoas em geral acabam tendo uma tendência de buscar receitas e guias em que vão encontrar, sem esforço, um passo a passo de como alcançar seus objetivos, e obviamente não é assim que as coisas funcionam. Entretanto, acredito que através do debate e da reflexão podemos buscar formas de adequar as nossas estratégias aos nossos objetivos. E isso não vale só pra música, vale para quase todos os setores. Como isso ainda é muito recente para os músicos e artistas de uma forma geral, é natural que haja um alarde e uma desilusão maior.

Bem, tentando peneirar sem ser nem pessimista e nem otimista ao extremo, eu encaro todo e qualquer trabalho artístico como um empreendimento. Ou uma fábrica, e em ambos os casos é necessário um gerenciamento, um pensamento estratégico de como e onde lançar seu produto buscando otimizar os resultados. E aqui entram duas questões importantes.

Em primeiro lugar pode parecer uma visão dura e técnica de algo que deve ser tratado com leveza e criatividade, como são as artes. E de fato é mesmo, mas é preciso tirar um pouco desse romantismo e divindade que está por trás do fazer artístico. E creio que esse seja mesmo o desafio do artista-empreendedor de hoje: conseguir criar sua arte com qualidade e originalidade (pois sem isso nem adianta começar o resto) e ao mesmo tempo conciliar esse pensamento estratégico exigido no empreendedorismo. Por mais antagônico que isso possa parecer, a realidade hoje é essa e temos que vencer essa barreira. Médicos, advogados, dentistas, são profissionais autônomos que estão acostumados a fazer isso a mais tempo, dedicando-se aos estudos e ao exercício da profissão em si, viagens a congressos, etc, com a demanda burocrática de administrar um consultório, pagar contas, contratar e demitir funcionários, e por aí vai. Guardadas as devidas proporções, os artistas estão começando a se deparar com esse dilema e tentar resolver da melhor forma possível sem comprometer o seu trabalho, que é muito diferente dessas outras profissões. É um angu de caroço mesmo.

Outra questão é justamente o que é esse resultado. Qual o tamanho do “sucesso”? É preciso partir do pressuposto, como já disse Simon Frith, que a música é um produto comercial fadado ao fracasso. As grandes gravadoras resolveram essa questão durante o século XX através do monopólio, do jabá e da interferência na legislação de direitos autorais. Após a revolução digital e o barateamento dos custos de produção, se abriram possibilidades para o surgimento de outros modelos de negócios entrarem no jogo, mas também se deparar com essa problemática. E talvez o caminho seja entender qual o sucesso pretendido. Não existe mais um número a ser alcançado como havia antes. Alguns parâmetros como o disco de ouro, que media a quantidade de vendas do disco, não fazem mais sentido. Uma vez atingido esse número, estava decretado o “sucesso”. Não é mais assim. O lado ruim é que talvez muitos e muitos artistas e bandas não apareçam no Faustão e não cheguem às novelas. Por outro lado, o sucesso se relativizou bastante e hoje é possível atingir um patamar de reconhecimento (público e até financeiro) sem se preocupar e sem nem passar perto desses parâmetros antigos. Exemplos não faltam, e estão até ganhando Grammy hoje em dia, que era prêmio tradicional no meio das grandes gravadoras e quase que exclusivo de seus artistas. A questão é justamente buscar os resultados possíveis dentro dos objetivos estabelecidos para aquele trabalho.

E falando em resultados, claro que o show voltou a ser o principal produto do artista, e as estratégias devem ter uma atenção especial para valorizar a apresentação. É nela, inclusive, que o artista pode desenvolver e vender a maior parte do seu merchandising (discos, bottons, camisetas, etc). Para chegar à ilha maravilha com dinheiro e champanhe à vontade, só mesmo montado na onça.

Bem, essa foi a última coluna do nosso querido Téo Ruiz! Agradecemos demais o belíssimo trabalho que ele fez nos últimos meses! Obrigado meu amigo! A #MADM não seria a mesma sem a sua contribuição!

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