#ApostaMADM - E a terra nunca me pareceu tão distante
Hoje já fazem 83 dias, 4 horas e 20 minutos desde que parti. Não levei muito além de alguns alimentos pastosos, meu discman e a certeza de que nunca mais hei de voltar. O meu adeus é eterno.
Me permiti alguns deleites nesse último voo. Lembrei de um velho amigo recomendando uma banda que, nessas exatas circunstâncias, faz um monstruoso sentido. E a terra nunca me pareceu tão distante.
Toda viagem merece uma trilha sonora. Daqui, onde os arranha-céus se assemelham a meras formigas, só consigo pensar em como esse som faz todo sentido. Foram dois os discos deles que consegui encontrar. Dois EP's, na verdade: “Vazio” e “E a terra nunca me pareceu tão distante”. As informações parecem estar incompletas, como se alguém as tivesse apagado do CD. Os últimos dígitos de ambos os discos são “014”, o que me faz pensar que são do ano de 2014.
Um post-rock instrumental. Seus arranjos são um constante crescendo: muitas vezes iniciados com uma leve harmonia de guitarra, com o passar dos segundos essas melodias ganham vida, volume, força. De repente, estão todos os instrumentos trabalhando em uma junção espetacular. E aí – fim. Cresceram juntos, morreram juntos. Esse talvez é um jeito simples, porém verídico de descrever suas composições.
Composições essas que me definem. Que definem a natureza humana, diria eu. Quando umas portas se fecham, outras se abrem; e por mais que a sensação as vezes seja de estarmos cada vez mais distantes de tudo, uma mudança de ângulo pode demonstrar que nos aproximamos de novos e plenos destinos. No meu atual estado, nada é mais verdadeiro. Todo fim é um novo começo. Essa banda me fez lembrar disso. É por isso que a exponho aqui, na minha última viagem.