#ColunaDoChacal - Abrão
O verbete da palavra "religião" tem o sentido de reestabelecer um circuito do plano físico para o espiritual, revelar devoção, credo na existência de potencial ou forças espirituais e a manifestação de crenças por rituais próprios. Embora Abraão não faça parte da categoria gospel, sua música não deixa de ser religiosa.
Crescido nos guetos judaicos de São Paulo, entre as décadas de 1960 e 1970, em meio da influência psicodélica ocidental e da repressão e censura interna do país. Sufocado pelas regras da sociedade que limitavam-no, fez a sua decisão em empurrar novas fronteiras sobre o que asfixiava pela opressão.
Antigo líder underground do pós-punk "Kafka", Abrão iniciou sua saga de contos fantásticos em sua terra gênesis, tocando na metrópole econômica do país, que se sobrescrevia pela nomeação de um santo católico. Através da escolha de uma metamorfose própria, deixa a banda "Kafka" com o legado de dois discos bem memoráveis e toma viajem de modo cacheiro para a Índia. Trocando o Tietê pelo Ganges e indo para um dos berços da cultura politeísta.
Depois de sua longa pesquisa musical além das dunas desertas do Oriente, no ano de 1997 se muda para Israel reestabelecendo uma nova vida. Após anos de turnê e gravações com o grupo de produção musical Red Axes, lança seu primeiro EP solo sem ter a predestinação em alterar seu nome.
A definição musical é moldável e nômade como muitas vezes a World Music se classifica. Lembrando os melhores anos psicodélicos de Ronnie Von, porém procura eloquência de forma apresentável, com claras referências do trip hop, utilizando a programação eletrônica para ser complementar a seus atabaques.
Migratório como foi sua história, Abrão cruza sonoridades da Bahia até a Mesopotâmia. Produzido pelo Red Axes, dá o arranjo que envolve a voz de Abrão como um templo anacrônico, dando-lhe espaço para suas letras que servem tanto como mantras sagrados como também órficos. Enquanto os sintetizadores falam aramaico, o som toma valores esfumaçados, servindo para sessões de yoga e relaxamento como para festas que experimentem a cigania de Marselha.
Assim como a princesa Sherazarde, Abrão adia a história para instigar o desejo pela continuação. Deixando 4 musicas que buscaram cuidado em seu sincretismo esotérico para tomar forma de um eletro jazz hindu em eterna transformação. Feito para agradar árabes e hebreus, estejam longe ou não da terra prometida.
Não existe paraíso que não seja distante.