#ColunaDoChacal - Açúcar Mascavo - Engenho nos Trópicos Progressivo
Devido a sua apresentação no festival de música da Record de 1968, em plenos anos de chumbo do regime militar, Caetano Veloso e Gilberto Gil foram linchados publicamente por utilizarem instrumentos elétricos em suas performasses. Por equivoco da esquerda paulista que havia se armado de vaias, ovos e tomates, sobre o pretexto dos recentes compositores estarem denegrindo a música brasileira se rendendo a objetos do imperialismo americano. Exilados após fundamentarem a vanguarda do tropicalismo, as "armas" dos yankees ganhariam popularidade e se tornariam ferramentas para a contracultura e a subversidade.
A Açúcar Mascavo é a renovação dos frutos elétricos nas raízes do país que se cercou por impérios, senzalas, oligarquias, veredas, diversidade musical e atualizou as mesmas funções e modificou certos nomes.
Lançando seu primeiro trabalho no recente junho de 2017, a banda se manifesta pelos trópicos da Internet com estruturas do progressivo contido nos exageros. Em cinco músicas apresenta um trabalho bem consolidado em forma e na intercomunicação entre elas. Dando a entender que foi uma luta ganha contra a ansiedade de se revelar apressadamente para dar cuidados na produção e gravação.
Em uma cozinha fundamentada em jazz, é inevitável não reparar na timbragem das linhas de baixo bem construídas sobrepostas por uma bateria ágil e percussão eficaz. Temperado por guitarras autenticadas por arranjos de rock em uma boa colocação de efeitos, e solos que parecem ser um interprete traduzindo John Frusciante para Pepeu Gomes. Fermentada pela sutilidade de bandolins e da montagem de estúdio.
Por uma viagem de pés descalços, a banda anda em sonoridades recoberta por sertões de um universo interiorano presente por boias-frias, sanfoneiros, coronéis, grileiros, escravidão por endividamento, sem terras e toda a neblina de Guimarães Rosa. Até submergir dos mares de Dorival Caymi na tempestade de hegemonias, orixás, pescadores, inconfidentes e carnavais. Ao preparo do misticismo de senzalas onde brotaram atabaques e feitiçaria.
Olhos atentos ao passado colonial erradicado de independência , a banda emerge e navega em letras que redescobrem a América. Em especial a canção "Luz del Fuego", um épico em veias abertas para a interpretação, conta pelas retinas da latino américa que possuiu tribos indígenas dizimadas, foi transformada em república neocolonial para companhias de fruta e é visto como ponto de turismo sexual para o exterior.
No momento em que há cada vez mais distanciamento de novas bandas com a música brasileira, Açúcar Mascavo se expande por engenhos e se refina muito bem em suas origens conterrâneas. Sem o risco de serem linchados, esses jovens estarão prestes a conseguir aplausos, muito bem merecidos e espero que tão bem arranjados quanto suas músicas.
Agradecimento a toda banda pela música e pela inspiração.