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#ColunaDoChacal: Ximbra – Patrimônio Morgado de Alagoas


Alagoas é, historicamente dos mais importantes, visualmente dos mais belos e por infortúnio dos mais desgraçados estados brasileiros. Tendo o menor IDH do país, sendo conhecida como propriedade grileira da família Collor e herança dos descendentes de Renan Calheiros, o estado que um dia pertenceu ao império holandês, hoje coexiste com a dominação progenitora dos escravocratas patriarcais e antigos senhores de engenho. Como sucessão da prole popular que foi coadjuvante nos anos de exploração, Ximbra toma voz de forma visceral e irônica, e vai aos limites da qualidade que o punk rock permite. Tocado para trazer as fatalidade históricas que cairão como uma maldição para os que não possuem latifúndios ou cadeiras no Congresso.

Vindo da cidade que foi fortaleza para Palmares e que hoje domina os índices de homicídio racial, Ximbra impõe-se e personifica Maceió e suas alegorias como verdadeiro fruto da contradição. Todavia, com os valores originais do estilo musical bem afirmados e distanciando-se do tradicionalismo e dos costumes preconceituosos já ultrapassados.

Levando em conta sua etnia cultural e a despretensão em fazer música, a banda progressivamente traz para si a ironia que molda sua originalidade. Com influências de Rogério Skylab e Júpiter Maçã, além de um olhar bem trabalhado no aperfeiçoamento, Ximbra repassa um caminho que dá voltas em Velvet Underground e vai até os detalhes sutis do The Cure. Enraizado ao hardcore original, o quinteto talvez viria a ser revival se não fosse inovador. Mantendo um discurso atual ao mesmo tempo que uma sonoridade saudosista e conceitualizada para a desobediência.

Seu disco de estreia ("A Maldição Desta Cidade Cairá Sobre Nós) é uma obra de maior necessidade do que merecimento. Seja pelo crescente autoritarismo que toma ignorância como ideologia, ou por membros internos da cena punk que propagam segregação pela prática.

Tendo não só um trabalho critico bem acertado contra a misoginia, a homofobia e o racismo, como também é demonstrado um arranjo suscetível à aptidão virtuosa, que faria a maioria da vasta quantidade de bandas do movimento vender o próprio baixista para ter criado um trabalho como é o de sua estreia.

Se fazendo como base e inspiração por Maceió, Ximbra já pode se manter como patrimônio da cidade. Morgado e antifacista, mas ainda há de servir como referência para gerações futuras.

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