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#ColunaDoChacal: Vitor Milagres - Desterro da Cidade Imperial


Exílio para muitos é uma penitência. Para outros uma condição. Mas além da exclusão geográfica, consegue ser um sentimento dos mais íntimos; e nunca compartilhado. Diante de um desterro intrapessoal, sobre um degredo tanto quanto reflexivo, Vitor Milagres foi até os lugares desabitados dentro de si, e compôs seu repertório que lhe desnudaria para quem viesse ouvi-lo.

Em seu primeiro disco solo e autoral, Vitor segue o mesmo caminho de muitos, porém indo para direções diferentes. Inspirado por uma semana em que morou em Petrópolis, sobre o pretexto de estudar arquitetura na instituição local; passou-se como desconhecido na cidade real, inexplorado em sua percepção, misterioso para olhares externos e um estrangeiro distante da Baia de Guanabara, onde havia se criado como uma figura popular nos bairros de sua cidade natal. Em uma semana encontrou-se pelas ruas da serra e para fins de história, compôs todas as músicas de seu disco. Após saber a aprovação de sua entrada na academia, voltou para sua terra gênesis, onde já fazia falta a seus companheiros e amigos.

No contexto de seu disco, – Cidade de Pedro –, assim como Tom Jobim se apropriou da zona sul carioca, Milagres sobe à compassos de bossa nova pela serra e respira o ares escassos e frios perante a altitude petropolitana. Em rito de seu violão mesclar-se aos arranjos, sua voz solta-se mediante da forma que deseja como consegue conter-se no que pretende. Se fazendo sutil da mesma maneira que memorável.

Preenchendo seu vazio, a are por si só é o que transborda. Não por acaso Vitor, assim como Camões, Fernando Pessoa e Pablo Neruda, faz uma ligação titular e acolhedora perante o mar. Torna seu desbravamento um horizonte interno para ensinar e se desvincular a correnteza poética usual.

Acompanhado de excelentes músicos e de muita paciência para as gravações, o disco toma proporções encaixes e se torna afiado sem deixar pontas soltas. Auxiliado por uma cozinha caseira, que harmonicamente faz-se mais pessoal, e recebendo participação de metais e sintetizadores, que colaboram para o disco se tornar mais sofisticado.

Apoiado por tantos amigos e movido por sonhos onde não cabem o envelhecimento, Milagres demonstra que em tudo se faz canção possibilitando ser significativo ao ser considerável. Ontológico sobre o exílio, Cidade de Pedro tem maturidade musical maior do que o esperado. Talvez seja o efeito solitário que a cidade imperial traga ao retiro dos que devem – e precisam – ser ouvidos.

Confira o disco:

Confira sua gravação ao vivo no terraço:

Crédito e dedicação para o editor-chefe Arthur Viana, por me dar espaço e liberdade até conseguir voltar a produzir o conteúdo que gosto da maneira de como almejo.

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