Resenha: Banda Gente - #SomostodosSilvas
Banda Gente é um trio formado por Iolly Amancio, Wallace Cruz e Nico Souza. Fazem um samba rock (swing) com diversos elementos regionais e o primeiro álbum completo da banda veio pra representar toda baixada fluminense e também todos aqueles que se identificam com o sentimento de batalha, determinação, garra, resistência e luta por um mundo sem preconceitos onde #SomostodosSilvas. Você vai amar! Muito gostosooooooo!
"Cólera", faixa 1 do álbum, com uma pegada bem regional e com breves distorções e solos estridentes fala de forma sutil um pouco sobre uma realidade dura da vida nas comunidades da baixada fluminense através de um personagem (o menino) o qual ao fechar a sua janela com medo da realidade expressa tudo que vivencia no dia a dia e então torna-se um artista que reverte “o vírus do mal” em “algo benéfico” e vê o mundo com “outros olhos”. Destaque para a frase que diz “Se não arrancarmos raiz dessa flor, receio que o amor acabe”, esta que diz que no mais fundo de nosso interior está toda beleza e verdade. Cólera é um vírus que a música coloca como uma forma de mostrar o que está a volta, mas que se usarmos toda a verdade em nosso interior, não haverá força do mundo exterior que possa interferir no ato final. Além de poder-se refletir também dá pra dançar muito com esta faixa (e as demais também), fica a dica!
"Indiferença", faixa 2 do álbum, com uma mensagem mais direta abordando o preconceito e a segregação racial. Esta faixa crítica o que a tv mostra, já que não é a mesma realidade das ruas (exceto os pontos turísticos).
"Por Tua Causa", faixa 3 do álbum. Esta faixa usa de umas passagens bem interessantes no contexto do arranjo, além de ter umas nuances bem rock n’ roll em determinada parte da música com detalhes interessantíssimos no contra-baixo que por sua vez também faz umas passagens isoladas bem legais. Também usa o menino como personagem (eu imagino que a banda Gente tenha realmente um menino ou um boneco que sirva de personagem só pra se inspirarem e fazerem as músicas e não irei me espantar se num futuro próximo eles lançarem um clipe com um menino, ou um boneco – brincadeira, risos) e é possível ver a retratação que esse menino simboliza como, por exemplo, o índice alto de meninos que morrem no tráfico das favelas. Vou destacar a frase que diz “Menino levanta que a sua mãe te espera em casa”. Realidade na mensagem da música.
"Na Rua", faixa 4 do álbum, com participação especial de Luis Claudio da Banda DSD e com uma levada swingada em cima do pop rock, dando uma característica interessante além de usar riffs muito legais na guitarra. Esta faixa fala da dura realidade brasileira e principalmente fluminense, que é o desemprego e o caos que se gera. Uma crítica ao governo que finge não ver o caos que entre as classes de cunho menor está crescendo em nosso país.
“Rede”, faixa 5 do álbum. Esta faixa é uma reflexão sobre as vidas que são perdidas de forma injusta em nossas comunidades em meio ao reflexo da violência. O instrumental é bem melancólico por boa parte da música tendo no final um ‘up’ com uma bela de uma guitarra distorcendo e solando e resultando num som muito gostoso de ouvir. Nesta faixa o personagem do menino cresce, porém morre (confundido no tráfico).
“Pássaro Preto”, faixa 6 do álbum, em que tem a participação de Milsoul Santos ditando uma belíssima história de resistência para reflexão. Lembre-se sempre: diga não ao racismo!
“Silvas”, faixa 7 do álbum. Esta é um belo de um samba revestido com um pouco de drive distorcendo no início já deixando qualquer um arrepiado. Assim como todo álbum, é uma faixa bem gostosa e essa retrata a memória de boa parte da população de comunidades carentes ou suburbanas. A escolha do nome ‘Silvas’ é devido a ser um sobrenome bem comum entre uma boa parcela das comunidades, e então caracteriza toda uma classe. Essa faixa tem alguns elementos bem regionais misturados com as guitarras rifadas dando um sabor diferente ao temperar a música com ritmos culturais (é possível sentir uma capoeirinha de leve nesta faixa). Lembra um pouco da vida daqueles que resistem as injustiças sociais com muita luta e de forma heroica.
“Viga Humana”, faixa 8 do álbum. Com uma harmonia e melodia bem cativante e estridente nota-se também uma reverberação diferenciada trazendo toda uma conexão podendo se sentir bem as vibrações da potência sonora contida na voz da Iolly. A letra é direcionada para todo trabalhador que leva uma vida injusta aos pés de um governo sentenciador. Uma bela crítica reflexiva.
“Samba do Trem”, faixa 9 do álbum. Um samba que mostra o dia a dia de todo trabalhador que pega o trem para ir pro trabalho e fica naquele receio de não haver atrasos, porque como sabemos o patrão não quer saber se o trem atrasa ou não, e a letra da música lembra isso. Quanto ao ritmo é bem gostoso e como característica da banda você além do sambinha ouve boas rifadas e solos do rock n’ roll.
“Repara”, faixa 10 do álbum que bota o dedo em cima da ferida. Iolly dita uma bela reflexão com uma ambiência sonora apropriada para tal conexão com a mensagem.
“Vem e Vê”, faixa 11 com a participação de Átila Bezerra. Mais um sambinha bem gostoso repleto de melodias estridentes. A letra nos diz que apesar de termos muito a aprender, também temos muito a ensinar. Mostra o quão opressor nossa vida pode ser, mas que no final de tudo toda beleza e dádiva da vida podem recompensar. Vem vê!
“Infância”, faixa 12 do álbum. Faixa que relembra a muitos de nós bons momentos de quando éramos crianças. Nesta faixa o som de triângulo traz uma sonoridade bem legal ao contexto do arranjo.
“Meu Sonho”, última faixa do álbum. Faixa com alteração no efeito da voz em determinada parte da música. Também possui o som de triângulo e a letra comenta sobre o sonhar e fomenta a determinação para que se possa sonhar e ver o mesmo se realizar. Nesta faixa (assim como em todo o álbum) vemos muita riqueza no arranjo e ela encerra o cd com gostinho de quero mais.